Sobre o feminismo

16:30

Era uma manhã meio nublada quando passou uma manifestação feminista. Uma marcha bem arranjada com peitos de fora, poucas roupas e muitas mulheres lutando por causas perdidas, outras em detrimento e algumas que precisavam apenas ser lembradas. Eu como mulher e feminista achei lindo de se ver, admirar e até de sentir, mas de ouvi os burburinhos dos lados direito e esquerdo não gostei tanto. Para ser mais precisa estava na cidade grande, tinha viajado, precisava resolver alguns problemas, sabe, a vida sempre tem problemas.

Mas parei para eu ver os batuques dos tambores e os deboches de quem assistia. Uma velha senhora de mais ou menos 70 e lá se vai anos começou a resmungar me cutucando, dizendo que era uma pouca vergonha e que não se faziam mais mulheres como antigamente. Depois de alguns meses me desconstruindo nem conseguia sentir mais raiva de ouvir outras pessoas falando dessa forma sobre o feminismo, então lá fui eu explicar com a minha paciência de Jó que elas estavam lutando pelos nossos direitos. Direito de igualdade, de podermos sair na rua sem precisar sentir medo, de termos o direito de querer e fazer qualquer coisa com o nosso próprio corpo e para quebrar tipos de pensamentos como o dela.

Sem esperar muito eu terminar de falar ela me olhou como se me reprovasse e me enxergasse manifestando também mesmo não estando com os peitos de fora, com a cara pintada e nem gritando a música que fazia o ritmo daquele protesto. E na verdade, era isso mesmo que eu estava fazendo, manifestando usando apenas a arma que eu tinha coragem de usar, a voz, para assim apoiar o feminismo. 

- Aliás, meu nome se chama Feminista em Construção, prazer, como a senhora se chama? - Falei levantando a mão para cumprimenta-la, sem sucesso, já que ela não levantou a mão para retribuir o cumprimento de volta.

- Chamo-me Sociedade - respondeu áspera. 

Logo vi que o nome combinava com ela, e que talvez eu precisasse muito mais do que paciência para ela pelo menos aceitar o meu ponto de vista.

Mandei uma mensagem meio apressada para duas amigas, a Feminista Radical e a Libfem. Quando chegaram elas não se espantaram com a idade e os anos de machismo que estavam impregnados na senhora Sociedade, a Feminista Radical falou seu ponto de vista de uma forma menos paciente do que eu, mas falou dos seus anos de luta, das suas irmãs que morreram para estarmos todas aqui e com vozes, de quantas mulheres nos dias de hoje sofrem violência, de quantas outras mulheres precisam fazer um aborto, mas tem que se submeter a lugares sem estrutura e acabam morrendo ou sendo prejudicada para o resto da vida. 

A senhora Sociedade virou o rosto e fingiu que não ouviu, as pessoas que estavam em volta começaram a ouvir o discurso de nós três contra a senhora, mais pessoas se juntaram e começaram a se interessar e de repente estava acontecendo uma manifestação dentro da manifestação. Falamos sobre a importância da legalização do aborto e o porquê que tinha que ser legalizado, falamos sobre outras causas e fomos ganhando voz em meio ao batuque principal.

Quando a senhora Sociedade viu que a roda estava grande e que ali não havia espaço para ela, simplesmente saiu, meio que não aceitando nada do que falávamos e quanto mais ela se afastava, nós passamos a falar mais alto.

Afinal, a Sociedade vai ter que nos ouvir.

♥                ♥  ♥  ♥  ♥ 

Fiz essa crônica para a disciplina que estou estudando atualmente na minha faculdade: Redação Técnica. Disciplina mais amor que já vi ♥ Prevejo muito mais posts sobre ela por aqui. Mas me contem, o que acharam da crônica?

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9 comentários

  1. Ai Raquel, eu amei. Adorei de verdade. Nao sabia que eras feminista♡.
    Unidas somos mais forte e ninguém vai nos parar. Vamos lutar onde precisar.
    Conhece o blog "Para Beatriz"? é um dos meus favoritos sobre feminismo, ainda mais na maternidade.

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    1. Simm, Die. Sou feminista. Talvez não saibas porque como estou ainda em construção eu gosto mais de ouvir sobre do que comentar. Mas estou mudando esse quadro e quero falar mais sobre isso.

      Não, ainda não conheço, mas vou procurar e ler ele. Obrigada pela indicação.

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  2. Fui pega desprevenida quando as personagens se identificaram com aqueles nomes, realmente não estava esperando, mas adorei o texto! Ainda estou saindo do armário nisso de feminismo

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    1. Uma amiga falou a mesma coisa para mim. Haha.
      Que bom que gostou Kami, sei bem como é essa situação de sair do armário, haha.

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  3. bom pois é nao sou feminista psokspokspo pelo menos nao me considero
    digo isso pois apesar de ser a favor do direito da mulher de andar como quiser e nao ser colocada em situações de risco ou aquelas piadinhas ridiculas e entre outras coisas como: o homem ganhar o mesmo tanto e muitas d4essas coisas que de certa forma ja foram conquistadas, nao sou a favor do aborto tipo sou meio a favor kkkkkk depende de por quais circustancias uma mulher quer fazê-lo
    enfim gostei do seu texto :)

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    1. Marcelle, pelo que você já apoia você já pode se considerar feminista. Haha. E ó, não é porque você é feminista que tem que apoiar todas as causas que as feministas apoiam. Por exemplo, tem feministas que odeiam homens, pelo a história de vida que elas passaram e eu não. Amo os homens. Mas eu apoio elas no poder da escolha de agirem dessa forma. O bom do feminismo é justamente isso, apoiar somente as causas que você se sentir a vontade e quiser apoiar e respeitar a decisão dos outros, porque cada um tem sua história e tem motivos para lutar por determinadas coisas.

      Semana que vem irei publicar um editorial aqui no blog que fiz na faculdade sobre a legalização do aborto e espero que você entenda mais um pouco sobre ele. Tá bom? Que bom que gostou do texto <3

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    2. Muitas pessoas não entendem o que é ser feminista, Marcelle. Tem visão distorcida do movimento e acabam discriminando-o. A principal pergunta para saber se é feminista ou não, é: "Você apoia a igualdade de gênero?" se sim, você é feminista. Ser feminista não é odiar os homens, o nome disso é misandria (ódio por homens por algum sofrimento causado). O feminismo prega amor e nossa liberdade, o apoio que podemos encontrar uma nas outras e lutar contra o machismo que tanto nos oprime.

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  4. Raque, me apaixonei *-*
    Adorei os nomes que deu aos personagens que se encaixavam de forma perfeita para a forma de pensar e realidade.
    Parabéns, também sou uma feminista em construção e sabe o que me da mais raiva? Quando digo isso as pessoas dão risadas, rindo de mim como se eu fosse uma bobinha... enfim, acho que para essas pessoas apenas o tempo e minhas atitudes irão mostra-las o quão boba não sou.

    Beijão

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    1. ♥ Bru. Que bom que gostou.

      Enquanto eu fazia a crônica eu fiquei imaginando em algo a mais para mexer com quem lesse, e aí tive essa ideia.

      Te entendo totalmente, apesar das pessoas não sorrirem da minha cara quando falo que sou feminista, mas percebo uns olhares estranhos. Mas quer saber nem ligo.

      O que me dá raiva mesmo é quando eu exponho uma opinião (que geralmente ninguém mais concorda comigo) e a pessoa me acha sem coração, psicopata ou algo do tipo. Cada um com seu ponto de vista pô. Mas enfim, hoje eu apenas relevo.

      Beijos

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